"Surpreendeu-nos..."

“ ...menor de nove anos, figurinha entroncada de atleta em embrião, face acobreada e olhos escuríssimos e vivos, surpreendeu-nos pelo desembaraço e ardileza precoce. Respondia entre baforadas fartas de fumo de um cigarro, que sugava com a bonomia satisfeita de velho viciado. E as informações caíam, a fio – quase todas falsas, denunciando astúcias de tratante consumado. Os inquiridores registravam-nas religiosamente. Falava uma criança. Num dado momento, porém, ao entrar um soldado segurando um [rifle] Comblain, a criança interrompeu a fala contínua. Observou, convicto, entre o espanto geral, que ‘a Comblé’ não prestava. Era uma arma à-toa, ‘xixilada’ fazia um ‘zoadão danado’, mas não tinha força. Tomou-a; manejou-a com perícia de soldado pronto; e confessou, ao cabo, que preferia a ‘Manuliche’ (Mannlicher), uma carabina ‘de talento’. Deram-lhe, então, uma Mannlicher. Desarticulou-lhe agilmente os fechos, como se fosse aquilo um brinquedo infantil predileto. Perguntaram-lhe se havia atirado com ela em Canudos. Teve um sorriso de superioridade adorável: ‘-E por que não? Pois se havia tribuzana velha! Haverá de levar pancada, como boi acuado, e ficar quarando à toa, quando a cabrada fechava o samba desautorizando os praças?!

Aquela criança era, de certo, uma deformidade estupenda. E um ensinamento. Repontava, bandido feito, à tona da luta, tendo sobre os ombros pequeninos um legado formidável de erros. Nove anos de vida em que se adensavam três séculos de barbárie.”

Euclides da Cunha em ‘Os Sertões’, 1899




quarta-feira, 28 de julho de 2010

a proposta

elaborada a partir dos documentos:


-TRANSFORMING SCHOOLS - an inspirational guide to remodeling secondary schools
U.K Department for Education and Skills
creating opportunity, releasing potential, achieving excellence [Great Britain, 2002]
-LA SCOLARISATION DES ELEVES INTELLECTUELLEMENT PRECOCES
Jean-Pierre Delaubier
rapport à Monsieur le Ministre de l’éducation nationale [France, Janvier 2002]
-CRIANDO UM NEGÓCIO SOCIAL
Como iniciativas economicamente viáveis podem solucionar os grandes problemas da sociedade
Muhammad Yunus
ed. Elsevier/Campus Rj,RJ 2010
-VERS UN NOUVEAU CAPITALISME
Muhammad Yunus
Éditions Jean-Claude Lattés, 2008

os dados
1) Considere-se os quadros abaixo, relativos à distribuição da renda mensal, respectivamente, no Brasil e na cidade de São Paulo:

                        QUADRO 2
segmento       participação       renda mensal  
                      na população         estimada
  classe A              10%            R$ 10.000,00
  classe B              26%              R$ 3.500,00
  classe C              38%              R$ 1.200,00
  classe D              26%                R$  500,00
  fonte:  IBGE 2007
                                  QUADRO 3
domicílios em Sp, SP         com renda mensal acima de
       (unidades)                                    (valores)
                 90                               R$ 1.000.000,00
             7.500                                   R$ 80.000,00
           16.500                                   R$ 50.000,00
 fonte: estudo com fins mercadológicos, feito pela consultoria Escopo Geomarketing cruzando dados do IBGE para a cidade de São Paulo. Pesquisa publicada em 'Clase AAA, Veja São Paulo, Edição Especial Luxo, Vitrines de Ouro, maio 2005 e BURLE, Silvio. Milionários do Brasil. JC Online, 15/07/2007.

2) Acredito que a maioria de nós, brasileiros, já teve a oportunidade de se deparar com aquele menino ou menina, rapaz ou moça, pobres, altamente surpreendentes com relação às suas capacidades intelectuais e/ou motoras. Não me refiro unicamente aos intelectualmente precoces, mas àqueles meninos e meninas diante dos quais somos levados a pensar: “Putz! Imagine se pudessem receber uma Educação de qualidade à altura do talento que possuem...”

3) Entretanto, embora países -como Canadá, Rússia, Israel, Singapura, Taiwan, Coréia do Sul e China- estejam já há algum tempo realizando esforços dirigidos para atender às necessidades pedagógicas de seus jovens e crianças mais talentosos, de um modo geral “...Educação de qualidade...” ainda é, mundialmente, um privilégio de poucos. Poucos, quase sempre, posicionados no topo da pirâmide social.
Porém, acreditar que o Brasil possa compor ao lado dos países mais desenvolvidos oferecendo a melhor e mais abrangente Educação somente a uma parcela ínfima dos seus jovens e crianças, é preservar valores coloniais responsáveis, em grande parte, por nossas mazelas sociais.

a idéia
Trata-se de criar um negócio-social orientado no sentido de propiciar aos jovens e crianças mais talentosos das comunidades mais destituídas, um padrão de ensino igual ou superior ao das mais prestigiadas instituições particulares de ensino fundamental e médio
Antes de tornar pública esta proposta, cuidei de, sobre ela, ouvir diversas opiniões. Técnicas e leigas. Opiniões que, algumas das quais –tal como pretendo fazer com todas que porventura se mostrarem interessantes e aplicáveis à proposta- acabei incorporando ao conteúdo original e, assim, melhorando-o. Claro.
Contudo, alguns questionamentos (leigos), por revelarem, em comum, certa substância arcaica quando colocados à luz das reais necessidades do nosso Tempo, me pareceram extremamente adequados para sinalizar, aqui e de saída, o que esta proposta seguramente não é ou não contempla. Refiro-me a perguntas do tipo: “ -Tá. Legal ! Mas qualé a jogada ?”; “ -Óquêi, entendi. Mas uquiqu’eu ganho com isso ?” ou
“-Qual que é o lance ?”...
Bem... a proposta em questão não trata de um ‘lance’ ou de uma ‘jogada’, nem visa qualquer tipo de ganho pessoal outro, senão a satisfação de ver realizado o seu intento.

o que é um negócio-social
por Muhammad Yunus
(fundador dos empreendimentos Grameen e prêmio Nobel da Paz de 2006)

O poder estatal
pode fazer muitas coisas em resposta aos problemas sociais: é poderoso; tem acesso a todos os segmentos sociais; pode mobilizar imensos recursos financeiros; tem acesso a crédito/ajuda internacional a taxas de juros mais favoráveis... Imensas são as prerrogativas do Estado para confiar-se a solução dos problemas sociais. Entretanto, a persistência dos problemas sociais demonstra claramente que, para solucioná-los, a presença do poder estatal não é, por si só, suficiente. Por muitas razões. Dentre elas, destacamos duas: 1) as complexidades administrativas inerentes à defesa de um portentoso patrimônio público cobiçado por aqueles desejosos de utilizá-lo em benefício pessoal; 2) embora ´política’ signifique, também e sobretudo, ´responsabilidade’, algumas questões políticas podem representar um entrave para a ação eficaz do Estado.
O poder estatal deve contribuir para a solução de nossos piores problemas sociais, mas não pode resolvê-los sozinho.”

As organizações sem fim lucrativos
não são uma resposta inadequada para a solução dos problemas sociais. Porém, só a caridade não é suficiente. A caridade possui uma fragilidade intrínseca: ela depende de um fluxo de donativos provenientes de pessoas generosas, de organismos diversos, privados ou governamentais. Quando esses donativos são insuficientes, o mesmo ocorre com as ações caritativas por eles sustentadas. E, além do mais - como sabem todos os diretores de organizações sem fim lucrativo, jamais haverá dinheiro suficiente para atender à todas as necessidades. Mesmo que uma dada economia seja próspera, a parcela de suas receitas destinadas à caridade será, sempre, limitada. E a necessidade dos deserdados não decresce nos períodos difíceis. A caridade é uma forma econômica de transferência de riqueza do alto para baixo: se este movimento cessa, o auxílio aos necessitados também cessa.”

As agências multilaterais
são burocráticas, conservadoras, lentas e, frequentemente, estão mais preocupadas com sua própria sobrevivência. Tal como as organizações sem fins lucrativos, elas também padecem de uma falta de recursos crônica e, em conseqüência disto, os bilhões de dólares por elas investidos no espaço de décadas têm obtido pouco retorno face à amplitude dos problemas a serem solucionados.”

A responsabilidade social do empreendimento
não é, necessariamente, incompatível com a busca pela maximização dos lucros: ocasionalmente, por graça da Sorte, as necessidades sociais e as oportunidades de lucro elevado coincidem. Mas o quê acontece quando o lucro e a responsabilidade social não podem caminhar juntos? Os administradores estão comprometidos com um objetivo principal perante os acionistas dos empreendimentos que dirigem: aumentar a valorização dos investimentos realizados. Consequentemente, tais administradores devem se esforçar para atingir este objetivo. E só há uma maneira de fazê-lo: aumentando os lucros. Salvo orientação em contrário, a maximização dos lucros constitui obrigação legal perante os acionistas. Caso os administradores decidam optar por limitar os lucros com a intenção de contribuir para o bem estar social, os acionistas podem, com razão, sentir-se ludibriados e considerar a responsabilidade social do empreendimento uma irresponsabilidade financeira.”

O negócio-social
é um empreendimento criado para empreendedores interessados em alcançar um objetivo social específico.
Para os fundamentalistas do livre-mercado, a proposição acima poderá parecer uma blasfêmia: a idéia de um empreendimento caracterizado por objetivos outros que não a maximização do lucro. Contudo, a liberdade dos mercados não será ameaçada se todos os empreendimentos deixarem de buscar a máxima lucratividade possível. Mas o capitalismo poderá, certamente, ser aperfeiçoado.
Um negócio-social é uma sociedade de negócios que não distribui dividendos e oferece seus serviços ao preço-mínimo necessário para garantir sua auto-sustentabilidade. Critério a partir do qual seu desempenho é avaliado, o objetivo de um negócio-social é a geração de benefícios sociais para o público alvo de sua ação direta. Seus proprietários, após um espaço de tempo pré-acordado, podem resgatar os valores investidos, mas não podem realizar os lucros obtidos no empreendimento, os quais devem ser reinvestidos com a finalidade de financiar a expansão do negócio. Após recuperar o investimento inicial, os investidores podem reinvesti-lo no mesmo negócio ou em outro. Podem, se assim desejarem, simplesmente reembolsá-lo. Neste caso, continuam proprietários do negócio onde, portanto, possuem direito de supervisão sobre a administração e direito de participação nas decisões estratégicas relativas às atividades futuras do empreendimento.
O negócio-social não é uma instituição de caridade. É um empreendimento no sentido pleno do termo, o qual tem a obrigação de cobrir a totalidade de seus custos para atingir seu objetivo social. Funciona como um empreendimento clássico: possui serviços e/ou produtos, clientes, mercados, encargos, receitas e não pode, com qualquer outra atividade econômica, arcar com perdas indefinidamente. Difere do empreendimento clássico apenas no sentido de que, em seu âmbito, o princípio da maximização de lucros é substituído pelo princípio do maior benefício social possível. Desse modo, confere ao risco a oportunidade de atuar como vetor de mudança institucional.”

Quais as fontes de financiamento de um negócio-social?
“Milhares de pessoas destinam uma parcela de seus ganhos a fundações e obras de caridade. Parcelas que, a cada ano, somam milhões de dólares. Um negócio-social oferece aos investidores a possibilidade de recuperar o valor investido e tornar-se proprietário do empreendimento. Investimentos individuais -especialmente aqueles oriundos das pessoas mais favorecidas financeiramente e interessadas em auxiliar os mais pobres- são a principal fonte de financiamento do negócio.

Fundações e fundos de pensão, também, constituem importante fonte de recursos para um negócio-social. Um diretor de uma grande fundação me disse recentemente [2006]:“-Temos acumulado dotações em montante próximo a um bilhão de dólares, e elas aumentam a cada ano sem que possamos encontrar projetos suficientemente interessantes para usar a totalidade do fundo.”

Bancos de fomento podem emprestar para um negócio-social nas mesmas condições oferecidas para projetos do poder estatal.

Tratamento fiscal favorável por parte do Estado aos investidores de um negócio-social constitui um imperativo, considerando-se a natureza e missão de empreendimento de risco voltado para o bem estar público, cujos investidores -abrindo mão do lucro financeiro- buscam atender direitos existenciais básicos que, de outro modo, quando não-supridos a custo do erário, resultam em insatisfação social.”

Qual o ramo de atuação do negócio-social desta proposta?
Educação multidisciplinar de qualidade excelente, específica para crianças e adolescentes com elevado potencial de aprendizado comparativamente à média de seus pares nas comunidades mais destituídas sócio-economicamente.

Qual a importância deste ramo de negócio-social?
Ao olhar interessado não causará surpresa que para um enorme contingente de jovens e crianças, o caminho marginal à legalidade possa parecer mais atraente face ao estado de desolação e aridez da maioria dos estabelecimentos de ensino destinados a formar os jovens e as crianças das comunidades menos favorecidas. Acrescentado à revelação de MVBill o registro da elevada (e ascendente) taxa de evasão escolar dos estudantes brasileiros em nível de ensino fundamental e médio, torna-se possível formular uma hipótese verificável: se os representantes legais da sociedade brasileira não cuidam de aproveitar o talento especial de muitos de seus jovens e crianças menos favorecidos, o crime organizado o faz.
Resultante de séculos de políticas educacionais a princípio inexistentes, posteriormente equivocadas e, frequentemente, erráticas, o enorme déficit educacional brasileiro não poderá ser eliminado no tempo requerido pelo desenvolvimento econômico ocorrido nos últimos anos. Por esse motivo, centrar esforços em uma educação multidisciplinar de qualidade excelente direcionada àqueles jovens e crianças potencialmente capazes de se destacar entre seus pares (e por estes serem imitados) é um modo eficaz de acelerar a supressão de nosso déficit educacional.
De modo geral, carecem os estudantes brasileiros de uma formação cultural multidisciplinar de excelência tal que lhes possibilite realizar as conexões e abstrações universais demandadas pelo espírito humano, e sem as quais o conhecimento especializado, notóriamente, se revela insuficiente para fazer frente aos -ubíquos e sempre convidativos- apelos da corrupção e da criminalidade.
Esta proposta não pretende de sobrepor nem interferir nas diversas iniciativas educacionais de mérito inegável e necessárias, vigentes nas próprias comunidades de modo a propiciar-lhes o exercício da criatividade singular; acesso à Cultura e a diversos tipos de ensino especializado. Esta proposta visa a criação de um negócio-social voltado para proporcionar formação multidisciplinar de qualidade excelente aos jovens e crianças que, a despeito de suas precárias condições de vida, revelam-se potencialmente capazes de melhor aproveitar (e retribuir) o máximo esforço pedagógico a eles direcionado.

Por que só os melhorese não todos?
Algumas indagações, por nem sempre apresentarem como resposta a desejada solução que ensejam, nos obrigam ao exercício de alguma reflexão filosófica.
Não bastasse a necessária luta contra a existência de privilégios originados a partir de uma Natureza pródiga nas benesses e desvantagens com que arremata o tecido da Vida, à Consciência Humana impõe-se, também, o dever de lutar contra privilégios criados por sua ações mesquinhas. Exemplar do primeiro caso, é a luta de um jardineiro preocupado em regar um pouco mais de água por sobre um broto vegetal aflorado inadvertidamente para além da sombra benigna de uma árvore a resguardar os brotos do seu entorno. Do segundo, são todas as tentativas de enfrentamento das desigualdades advindas de sistemas sócio-econômicos elitistas e, portanto, intrinsecamente injustos.
Relativo à Educação, múltiplas são as frentes de luta destinadas a enfrentar tanto os privilégios ‘naturais’ (decorrentes da existência, de um lado, dos ‘virtuosi’ e de outro, dos ‘handicaped’) como os ‘artificiais’ (decorrentes da existência, a partir de um ponto de vista econômico, dos ‘muito bem aquinhoados’ e dos ‘totalmente destituídos’).
Contudo, relativo à frente de luta na qual esta proposta pretende se engajar, ao passo em que é possível citar países como: Canadá, Rússia, Israel, Singapura, Taiwan, Coréia do Sul e China onde, já há algum tempo existe um esforço dirigido e concentrado do Estado na Educação, também, dos ‘melhores’ , até o presente momento é impossível encontrar um único país onde uma Educação de Qualidade Excelente é ministrada a ‘todos’. Tal impossibilidade, evidentemente, não significa a perenidade de sua constatação, mas, talvez, a medida da perseverança necessária para o alcance da meta em questão.
Neste ponto, outra indagação: e porquanto de imediato não é possível oferecer Educação de Qualidade Excelente a todos, será sensato, então, admitir que a ninguém o seja? (por ‘ninguém’, aqui, excetuam-se os ‘muito bem aquinhoados’ e entende-se o público-alvo desta proposta, a saber: os providos pela Natureza com benesses, intelectuais e/ou físicas; e pelo engenho humano com desvantagens, sócio-econômicas).
Esta proposta de realização de uma Unidade de Excelência Educativa contempla a assim chamada, Estratégia de Irradiação em Círculos Concêntricos uma vez que, apresentando-se como o meio mais barato e eficaz para educar com qualidade excelente centenas de jovens e crianças excepcionalmente talentosos, moradores em diversas comunidades destituídas existentes nos bairros e regiões do seu entorno, propicia maior, mais rápido e melhor retorno per capita por centavo investido em cidadãos capazes de, em pouco tempo, tornarem-se paradigmas estimulantes para seus pares e famílias locais e, assim, constituírem-se em ‘cabeças-de-ponte’ no movimento de expansão de novas e futuras unidades do empreendimento.

Por que criar uma escolaespecial’?(ou: por que não aproveitar as melhores escolas já existentes?)
Para além do grande desequilíbrio econômico e, por conseqüência, cultural existente entre as classes mais privilegiadas e as mais destituídas do Brasil a criar, quando do contato entre ambas, constrangimentos de naturezas diversas, os jovens e crianças para os quais esta proposta está orientada, necessitam de um suporte pedagógico cuja montagem e manutenção demanda atender a certas necessidades específicas do seu público-alvo, tais como: reconhecimento, remediação, prevenção, atenção, motivação e equilíbrio.

O público-alvo desta proposta são indivíduos que, em geral, possuem uma característica intelectual individualista, livre e solitária, voltada para o ‘conhecimento por prazer’ e que, via de regra, estão mal-integrados no meio-social. Não estão interessados em sujeitar-se à realidade de uma situação de aprendizado imposta pelas escolas tradicionais, orientadas para construção de um saber que eles acreditam ‘já sabem’ ou que ‘não interessa’. São indivíduos que, a despeito de possuírem curiosidade; facilidade de expressão oral ou riqueza de vocabulário; capacidade de se apropriar de conhecimento por si mesmo, manifestam problemas comportamentais de natureza específica no aprendizado escolar ou, de um modo geral, uma inquietação, um mal-estar, um sentimento de enfado, passíveis de conduzir à rejeição escolar. Tais manifestações, frequentemente, estão associadas a um sentimento de incompreensão por parte da escola, na medida em que esta se mostra incapaz de explicar ou solucionar tais problemas.

Em ambientes escolares não adequados a atender suas necessidades peculiares, tais indivíduos sofrem: ir à escola lhes exige um esforço considerável.

Baixo desempenho em outras áreas ao par com qualidades relevantes a destacar estes indivíduos entre os demais -considerados certos domínios da atividade intelectual- são uma constante a desafiar o sistema educacional tradicional. Para tais indivíduos, as situações mais críticas são aquelas onde o desequilíbrio ou a desarmonia é mais acentuada, de modo a induzir-lhes a uma ênfase excessiva nos domínios onde se sentem mais à vontade –desafiando a inteligência comum- e a abandonar aqueles orientados ao desenvolvimento da sociabilidade e/ou habilidades motoras diversas.
É evidente que tais inaptidões possuem forma e intensidade diferente de um indivíduo para outro, seja em função da personalidade, seja em função do contexto escolar no qual se desenvolvem. Porém, no sentido de melhor cuidar e habilitar estes indivíduos, a atitude de pais e professores, suas relações, as escolhas pedagógicas e o modelo de escola têm influência determinante.

Qual o fundamento institucional deste ramo de negócio-social ?
Constituição da República Federativa do Brasil Artigos 206, caput VII e 208, caput V, respectivamente a saber: “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios... VII- garantia do padrão de qualidade”; “O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de... V- acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um.”

artigo 5 da Convenção Direitos da Criança, adotada em 20/11/89 pela Assembléia Geral das Nações Unidas, a saber: “Os Estados Partes respeitarão as responsabilidades, os direitos e os deveres dos pais ou, onde for o caso, dos membros da família ampliada ou da comunidade, conforme determinem os costumes locais, dos tutores ou de outras pessoas legalmente responsáveis, de proporcionar à criança instrução e orientação adequadas e acordes com a evolução de sua capacidade no exercício dos direitos reconhecidos na presente Convenção.” http://www.onu-brasil.org.br/doc_crianca.php

Declaração de Salamanca, proferida no âmbito da Conferência Mundial sobre a Educação e suas necessidades especiais organizadas pela Unesco em junho de 1994, adotada por 92 países e voltada para: “busca pela melhoria do acesso à educação para a maioria daqueles cujas necessidades especiais ainda se encontram desprovidas” sugerindo: “sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades...” “aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades...” http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf

Qual é a proposta?
A partir das duas maiores metrópoles brasileiras, São Paulo e/ou Rio de Janeiro, conforme melhor convier à estratégia e se apresentarem as oportunidades e incentivos proporcionados pelas autoridades locais ante o objetivo dos investidores interessados, propõe-se:
1) Localizar, identificar e selecionar nas comunidades sócio-econômicas mais destituídas, jovens e crianças dotados de forte potencial de aprendizado e notáveis padrões de comportamento intelectual e/ou desportivo, para oferecer-lhes o necessário suporte pedagógico que, compatível com suas singulares potencialidades de aprendizado, lhes possibilite transpor as barreiras que, para muitos deles, parecem impossíveis de serem superadas a despeito de suas aptidões, talentos, potencialidades intelectuais e desportivas indiscutíveis, porém sem condições sócio-econômicas para praticá-las plenamente.

Para que tais indivíduos, uma vez identificados e selecionados, possam desenvolver competências e conhecimentos nos domínios para os quais eles têm gosto ou talento, de modo a encontrar caminhos de êxito individual, cumpre fornecer-lhes estímulo, através de uma pedagogia inovadora e eficaz ao modo das melhores escolas particulares do país. Neste sentido, propõe-se a
2) criação de uma Unidade de Excelência Educativa destinada ao abrigo dos candidatos selecionados conforme a proposta 1)
A realização da etapa 2) poderá ser efetivada mediante ações diversas, porém não necessariamente excludentes, uma vez que poderá ser do interesse dos investidores a:
2.1) revitalização de um espaço já existente situado em local adequado e conforme aos princípios arquitetônicos entendidos como essenciais para o cumprimento do objetivo e metas acima propostos ou
2.2) a construção integral da unidade proposta e/ou
2.3) o aproveitamento e adaptação -após o encerramento da Jogos Olímpicos de 2016 na cidade do Rio de Janeiro- das instalações da Vila Olímpica destinada a abrigar, temporariamente, os atletas e equipes desportivas presentes ao evento.
Qual a missão do negócio-social proposto ?
• Restaurar a motivação e o desejo de aprender de jovens e crianças com grande potencial de aprendizado que, moradores nas comunidades mais destituídas sócio-economicamente, decidiram abandonar ou perderam interesse pela escola
• Fazer renascer seu interesse e tentar responder à sua curiosidade, a seus gostos, ou mobilizar suas potencialidades, através de uma dinâmica de aprendizado compatível com as ambições escolares mais elevadas, ainda existentes em muitos dentre eles
• Oferecer-lhes condições adequadas para o pleno desenvolvimento de suas aspirações e por assim fazê-lo
• Reduzir-lhes um potencialmente destrutivo sentimento de frustração, marginalização e culpa, de cujas conseqüências, quer nos parecer, nenhuma descrição será tão precisa e contundente quanto a do relato -fidelíssimo e ainda tristemente atual- que escolhemos como epígrafe desta apresentação.
• Prover à sociedade parcela de cidadãos singularmente capacitados a contribuir para o seu desenvolvimento material e bem estar espiritual.
Quais são estes jovens e crianças ?
Não se trata de ‘superdotados’ ou ‘intelectualmente precoces’ no sentido que, costumeiramente, estas expressões são empregadas, mas, sim, de jovens e crianças com elevado potencial de aprendizado comparativamente à média de seus pares sócio-etários. São indivíduos com capacidade de realizar certo número de atividades e desempenhos, impossíveis de serem realizados pela maior parte de seus pares. São jovens adolescentes e crianças que, nos domínios considerados, possuem capacidade de progredir mais rapidamente que os demais em seu meio de desenvolvimento e/ou aprendizado. São crianças sem problema de aprendizado, pertencentes a meios sociais destituídos ou integrantes de famílias menos capacitadas a acompanhar o desempenho escolar de seus filhos, alguns dos quais, sem dúvida, podendo possuir desempenho satisfatório nas escolas frequentadas, quando assim o fazem.

Como identificar tais indivíduos?
Observadas a posição dos analisados no interior da população em referência (comunidades mais destituídas sócio-economicamente) serão considerados os jovens e crianças que (levando-se em conta a existência de disparidades ou descolamento entre potencialidade vis a vis condição sócio-econômica) manifestem desejo e possibilidade de ‘ir mais longe’ em seu aprendizado. Incluindo-se nesta observação aqueles que através de suas atitudes demonstrem
• peculiar talento, gosto, curiosidade e vontade de aprender
• singular capacidade de memorização das informações recebidas
• duração e capacidade de armazenamento desta memória
• rapidez no trato da informação
• curiosidade notável
• facilidade de comunicação oral
• riqueza de vocabulário
• capacidade de apropriar-se de conhecimento por seus próprios meios
Como selecionar os candidatos?
A partir da observação e da aplicação de testes (ou concursos) vestibulares. Obtida, dessa forma, a distribuição dos desempenhos e comparados estes à amostra observada, serão selecionados os jovens e crianças que obtiverem médias acima da amostra observada.

Como lidar com os pais ou responsáveis dos candidatos selecionados?
Complemento aos argumentos apresentados na resposta à pergunta Por que só os melhores e não todos?, à margem da relação familiar nenhum projeto educativo realiza a contento seu propósito fundamental. Por este motivo, propiciar um diálogo, autêntico e aprofundado, com as famílias surge como um dos objetivos essenciais desta proposta: a realização de um empreendimento educacional capaz de atender à necessidade de vínculos afetivos familiares dos jovens e crianças com alto potencial de aprendizado.
Para tanto, é necessário que os pais também possam ser integrados ao processo, e possam compreender a especificidade da situação e a história de seus filhos; e que possuam, de antemão, a certeza de que tal situação será reconhecida e tratada conforme sua especificidade.

Quantos candidatos selecionar?
De modo progressivo, a partir da conclusão das obras de edificação e aparelhamento do empreendimento, sugere-se o seguinte cronograma de admissões:
primeiro ano de funcionamento (parcial)
ingressa o primeiro grupo de alunos, na forma a saber:
-20 alunos na Alfabetização
-20 alunos na primeira série do Ensino Fundamental
-20 alunos na quinta série do Ensino Fundamental
-20 alunos na primeira série (9a.) do Ensino Médio
total de alunos: oitenta (80)
segundo ano de funcionamento (parcial)
-recepcionam-se mais sessenta (60) alunos para cursar as vagas deixadas em aberto pelos alunos do ano anterior, para os quais abrem-se vagas para as séries seguintes.
total de alunos: cento e quarenta (140)
terceiro ano de funcionamento (parcial)
-recepcionam-se mais sessenta (60) alunos para cursar as vagas deixadas em aberto pelos alunos do ano anterior, para os quais abrem-se vagas para as séries seguintes.
total de alunos: duzentos (200)
quarto ano de funcionamento (primeiro de fucionamento integral)
-recepcionam-se mais quarenta (40) alunos para cursar as vagas deixadas em aberto pelos alunos do ano anterior, ao final do qual -já completas as três séries do Ensino Médio- saem os primeiros vinte (20) formandos da Unidade de Excelência Educativa.
total de alunos: duzentos e quarenta (240)
A partir dos anos seguintesvinte (20) alunos serão selecionados para, a partir da Alfabetização, iniciar o ciclo completo de estudos na Unidade de Excelência Educativa.

Qual a modalidade de acolhimento dos candidatos selecionados?
Sugere-se o regime de tempo integral, com os alunos retornando para suas residências a partir do meio-dia das Sextas-Feiras e reiniciando as atividades escolares a partir da manhã das Segundas-Feiras.



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