"Surpreendeu-nos..."

“ ...menor de nove anos, figurinha entroncada de atleta em embrião, face acobreada e olhos escuríssimos e vivos, surpreendeu-nos pelo desembaraço e ardileza precoce. Respondia entre baforadas fartas de fumo de um cigarro, que sugava com a bonomia satisfeita de velho viciado. E as informações caíam, a fio – quase todas falsas, denunciando astúcias de tratante consumado. Os inquiridores registravam-nas religiosamente. Falava uma criança. Num dado momento, porém, ao entrar um soldado segurando um [rifle] Comblain, a criança interrompeu a fala contínua. Observou, convicto, entre o espanto geral, que ‘a Comblé’ não prestava. Era uma arma à-toa, ‘xixilada’ fazia um ‘zoadão danado’, mas não tinha força. Tomou-a; manejou-a com perícia de soldado pronto; e confessou, ao cabo, que preferia a ‘Manuliche’ (Mannlicher), uma carabina ‘de talento’. Deram-lhe, então, uma Mannlicher. Desarticulou-lhe agilmente os fechos, como se fosse aquilo um brinquedo infantil predileto. Perguntaram-lhe se havia atirado com ela em Canudos. Teve um sorriso de superioridade adorável: ‘-E por que não? Pois se havia tribuzana velha! Haverá de levar pancada, como boi acuado, e ficar quarando à toa, quando a cabrada fechava o samba desautorizando os praças?!

Aquela criança era, de certo, uma deformidade estupenda. E um ensinamento. Repontava, bandido feito, à tona da luta, tendo sobre os ombros pequeninos um legado formidável de erros. Nove anos de vida em que se adensavam três séculos de barbárie.”

Euclides da Cunha em ‘Os Sertões’, 1899




sábado, 23 de março de 2013

um samba dolente



A Educação no Brasil precisa deixar de ser
"um samba dolente"
pois
“...toda criança é capaz de transformar...”
http://www.youtube.com/watch?v=3dRWse5d6Hk&t=3m27s

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